O ESTADO MÁXIMO INVADINDO O CAMPO EXISTENCIAL DO SUJEITO

UMA COMPREENSÃO PSICANALÍTICA ACERCA DO NEOLIBERALISMO

  • Lívia Ricardo Fernandes Centro Universitário da Serra Gaúcha
  • João Luís Almeida Weber

Resumo

INTRODUÇÃO/FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA: O neoliberalismo surge como resposta à crise do capitalismo. A partir do século XX, os ideais neoliberais eram traçados para que houvesse uma mudança no enquadramento econômico vigente. O objetivo consistia em uma limitação da intervenção estatal em nível econômico e social (DARDOT; LAVAL, 2016). Para que houvesse tal redução e a política de “Estado Mínimo”, era necessária uma subversão a nível não só econômico, mas também social e existencial. Margareth Thatcher em sua célebre frase proferiu: “economia é o método, o objetivo é mudar a alma”. Compreende-se: o neoliberalismo não trata- se de um modelo econômico, mas uma racionalidade, um modo de existir pautado na noção de capital. Segundo Foucault (2010), no neoliberalismo há o estabelecimento de um modelo de sociedade baseado no modo de funcionamento empresarial. Sendo assim, as bases epistemológicas do neoliberalismo apontam para a noção de utilitarismo e capital humano, ou conforme Dardot e Laval (2010), para uma racionalização empresarial do desejo. Atualmente no Brasil, há a hegemonia e o fortalecimento de tal racionalidade. A partir disso, lança-se a problemática: em que condições de saúde mental vive-se na racionalidade neoliberal? Buscar-se-á esmiuçar de forma breve a problemática. MATERIAL E MÉTODOS: O estudo em questão trata-se de uma revisão narrativa da literatura. O material abrangido constitui-se de livros acerca da temática. Fez-se uma interlocução do neoliberalismo como gestão da subjetividade humana, sob a luz da psicanálise freudo-lacaniana, ampliando as reflexões acerca da saúde mental no contexto de mercantilização de aspectos existenciais do sujeito. RESULTADOS E DISCUSSÕES: Segundo Corbanezi e Rasia (2020) no neoliberalismo tem-se os princípios: livre comércio, privatizações, desregulamentações, flexibilização de leis e direitos trabalhistas, antissindicalismo, combate ao funcionamento público, promoção da iniciativa individual, estímulo à competição, individualização de salários, aversão a coletividades sociais e outros. Logo, a política neoliberal trata- se de um empobrecimento do campo político- democrático e humano, dando espaço somente à esfera econômica capitalista (CASARA,2020).  Tal montagem, é pautada principalmente no que tange à noção de desamparo estatal e competição individual. Através disso, tem-se afetações psíquicas próprias da montagem neoliberal, modos de sofrer e existir atravessados pelas noções de individualismo, competitividade, meritocracia e antipolítica. Dardot e Laval (2016), apontam diagnósticos clínicos próprios do sujeito imerso na racionalidade neoliberal, tais são: sofrimento no trabalho; corrosão da personalidade (empobrecimento do laço social); desmoralização (afetos mobilizados somente para a eficácia); depressão generalizada; dessimbolização (enfraquecimento do campo simbólico) e perversão comum. Com isso, nota-se que o campo existencial do sujeito e sua saúde mental é totalmente gerida pelo Estado neoliberal. O discurso capitalista coloniza a subjetividade para que o sujeito se empobreça no campo do simbólico, e lance seu desejo unicamente para o mercado. Questões existenciais como: felicidade, liberdade, satisfação, desejo, sentindo de vida, são utilizadas como estratégias no discurso, para que a ideia de que, ao posicionar-se de forma produtiva no mercado, alcance-se um estado existencial satisfatório. O desejo torna-se desejo de produção e de consumo de mercadorias. O “ser”, reduz-se ao “ter” e ao “fazer”. É preciso ressaltar que o discurso capitalista é extremamente sedutor, justamente por tocar em questões constitutivas do sujeito, como a noção de desejo, por exemplo. Para a psicanálise lacaniana, o desejo é uma “ânsia” de algo (objeto a). Lacan aponta que não há nada que preencha a falta existencial constitutiva do sujeito de linguagem, entretanto a fantasia de que haja algo que complete, lança o sujeito ao movimento desejante de busca (LACAN,1985 b). O discurso capitalista toca este ponto, pois vende ao sujeito que ele se completará com um determinado produto a ser consumido, ou com seu trabalho. Tal engodo, transforma o Estado em um colonizador existencial do sujeito, fazendo com que ele exista para o mercado. CONCLUSÃO:O neoliberalismo molda a subjetividade a partir de aspectos existenciais, fazendo com que o sujeito se aliene ao capitalismo. É uma formação discursiva em prol de um sistema, e uma montagem produtora de adoecimento psíquico e noções de individualidade e competitividade. O neoliberalismo é o triunfo do Estado. É sua máxima interferência, e não mínima. O neoliberalismo desloca a concepção de “liberdade”, do revolucionário ao reacionário.  

Publicado
2022-07-12
Seção
Saúde e Ciências Agroveterinárias - Resumo Expandido