CASO MADALENA
UM RELATO DE EXPERIÊNCIA CLÍNICA A PARTIR DOS CONCEITOS DE NARCISISMO E ESTÁDIO DO ESPELHO
Resumo
INTRODUÇÃO/FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA: Realizando o Estágio de Prática Clínica na teoria psicanalítica, no serviço-escola do Centro Universitário da Serra Gaúcha (FSG), recebi Madalena de 36 anos, com demanda de insegurança e baixa autoestima enquanto mulher e mãe, sofrendo por sua filha preferir morar somente com os avós paternos. Ao ouvir Madalena, compreendi o caso sob o enfoque da constituição psíquica do sujeito. O objetivo da pesquisa é realizar um relato de experiência, alinhado às teorias psicanalíticas freudo-lacanianas e winnicottianas, principalmente no que tange aos conceitos de Narcisismo e Estádio do Espelho. MATERIAL E MÉTODOS: O estudo trata-se de um relato de experiência a partir da Prática Supervisionada Clínica do curso de psicologia da FSG. Para Daltro e Faria (2019), o relato de experiência é uma metodologia que consiste em uma narrativa científica, principalmente nos campos do conhecimento de aspecto subjetivo, como as ciências humanas e a psicologia. Para embasar teoricamente tal relato de experiência, utilizou-se referencial teórico das temáticas da constituição psíquica, nas compreensões freudo-lacanianas e winnicottianas. RESULTADOS E DISCUSSÕES: Madalena quando criança residia com os avós. Em uma tentativa de conviver com a mãe, fora rejeitada e mandada embora. Caracteriza a casa da mãe com o significante “caixão fechado”. Ao tentar uma vida ao lado do pai, Madalena encontra novamente a rejeição e violência. Atualmente estabelece relações com homens violentos, e coloca- se em posição de servilismo. Sofre sentindo- se sempre incapaz e inválida. Certa vez, ouviu no trabalho que se uma pessoa ingerisse dez comprimidos de medicação, entraria em óbito. Ao chegar em casa, Madalena ingere. Ao perceber que morria, busca socorro. Tal ação ocorreu sem ideação suicida prévia, caracterizando um acting out. Segundo Mees (2006) a atuação dirigida busca uma interpretação, e guarda a marca do fracasso discursivo, extravasando para o real, aquilo que deveria ser simbólico. Madalena conta que no hospital recebeu a visita do pai, sentindo-se um pouco melhor. Segundo Lacan (1964) o sujeito se constitui no campo do Outro, imerso da linguagem. Tal afirmativa lacaniana leva à compreensão do caso Madalena pela via da constituição psíquica, e que a marca de “caixão fechado” advém de um fato de discurso de sua matriz simbólica. A forma com que fora marcada nos períodos arcaicos do desenvolvimento, estruturou sua “arquitetura” psíquica, e assinalou seu modo de existir. Segundo Ferrari, Picinini e Lopes (2006), o corpo do bebê precisa ser libidinizado, tomado como objeto de investimento por um outro, para que seja constituído e banhado de narcisismo. Trata-se de um processo psíquico de introdução pulsional e narcísica, se dando a partir do narcisismo de quem é tomado pelo bebê (função materna). O narcisismo deriva do que Lacan nomeou como Estádio do Espelho, que consiste em uma identificação, que dará como resultado a função imaginária do eu (LACAN, 1986). Winnicott diz que o espelho é o rosto da mãe. É pelo olhar materno (transvazante de narcisismo) que se passa a existir, e não ser visto pelo outro materno suficientemente bom, significa não existir Winnicott (2020). Quando o olhar do Outro não é atravessado por desejo, libido e narcisismo, constitui-se uma lacuna na constituição psíquica. O espelho torna-se um caixão fechado, com aspecto de morte e não desejo. O bebê que foi Madalena, constituiu-se a partir da fantasmática parental que, conforme relato, teve a característica de ausência de investimento libidinal e narcísico. O trabalho psíquico a ser realizado no Caso Madalena, vai de encontro à poder reposicionar-se frente ao significante “caixão fechado”, instaurado pelo Grande Outro nos primeiros tempos. Segundo Mees (2006), a interpretação deve ser da ordem do significante. Ao realizar o ato analítico, busca-se a liberação do significante do significado, levando ao desprendimento do aprisionamento sintomático. Conforme Pereira (2007, p. 22) “a linguagem e a vida são uma coisa só”. CONCLUSÃO: Madalena carrega as nuances da morte nos modos como se relaciona consigo e com os outros. Madalena apresenta-se colada ao significante “caixão fechado” instaurado pelo Grande Outro na sua matriz simbólica. Conclui-se que um sujeito moldado psiquicamente a partir de uma ausência radical de narcisismo dentro da fantasmática parental, é inundado de marcas psíquicas a serem carregadas durante a vida. Um trabalho psicanalítico permite o desprendimento do significante, garantindo uma mudança existencial pela via do amor e da pulsão de vida.
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